Revista do Vestibular da Uerj
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Rio de Janeiro, 25/04/2024
Ano 12, n. 32, 2019
ISSN 1984-1604

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Artigos

Série Carreiras: Relações Internacionais, por Marcelo Mello Valença

Ano 9, n. 25, 2016

Autor: Marcelo Mello Valença

Sobre o autor: Marcelo Mello Valença é professor adjunto do Departamento de Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ). Seus temas de pesquisa se concentram principalmente na área de Estudos de Guerra e de Paz, Segurança Internacional e Direito Internacional, como economia política do conflito, gestão de conflitos armados, intervenção humanitária, política externa brasileira e integração regional.

Publicado em: 07/11/2016

REVISTA DO VESTIBULAR: O senhor é professor do Departamento de Relações Internacionais e do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, além de coordenador do curso de graduação em Relações Internacionais dessa instituição. Conte-nos sobre sua escolha e trajetória profissional.

Marcelo Mello Valença: Eu prestei vestibular em 1998 tendo como objetivo cursar duas faculdades, Direito e Ciências Sociais. Àquela época, não havia tantos cursos de Relações Internacionais no Rio, e a própria carreira ainda era desconhecida da maior parte das pessoas. Sempre tive interesse sobre questões internacionais, especialmente envolvendo temas de guerra e de paz, e acreditava que esses dois cursos me ajudariam a conjugar meus interesses pessoais com o que eu queria seguir como profissão. Depois de um tempo, por incompatibilidade de horários, tive de escolher por uma das áreas e optei pelo Direito, mas com um foco muito maior em Direito Internacional do que nos temas de Direito interno. Assim, enquanto meus amigos escreviam sobre responsabilidade civil, a desconsideração da personalidade jurídica no Direito do Trabalho ou reformas constitucionais, minha monografia de conclusão de curso foi sobre a tensão entre a proteção dos direitos humanos e o terrorismo. Isso tudo foi facilitado porque a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) oferecia disciplinas eletivas voltadas para as Relações Internacionais, e acabei cursando algumas nos últimos anos da graduação. Daí para decidir por uma pós-graduação na área foi um passo. Assim, em 2004, comecei o mestrado em Relações Internacionais e, em 2007, o doutorado. Minha dissertação e tese abordavam abordaram primariamente questões de Segurança Internacional e o campo da resolução de conflitos armados, o que acabou marcando minha carreira como pesquisador e docente. Fui professor de introdução aos estudos de Guerra e de Paz na PUC-RJ entre 2006 e 2010, onde também lecionei cursos de Segurança Internacional e Teoria das Relações Internacionais. Paralelamente, desenvolvi trabalhos e pesquisas com colegas de universidades norte-americanas sobre aprendizado ativo, usando jogos, simulações e filmes como ferramentas para estimular o processo de aprendizado em sala de aula. Em 2010, quando sai saí da PUC-RJ, comecei a lecionar no Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (IBMEC) e, ao final do ano, prestei concurso para a UERJ. Fui aprovado em 2o lugar, aguardando a abertura de vaga. Acabei entrando em 2011 como bolsista recém-doutor no Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais e trabalhei, desde meu primeiro dia, no desenvolvimento da nossa graduação em Relações Internacionais. Para minha felicidade, quando o curso foi aprovado, fui convocado e tomei posse como o primeiro professor do recém-criado Departamento de Relações Internacionais.

REVISTA DO VESTIBULAR: O curso de Relações Internacionais parece assumir especial destaque na contemporaneidade em função do intenso processo a que se tem denominado “globalização”. Qual a vinculação entre a formação oferecida por esse curso e a atual conjuntura nacional e internacional?

Marcelo Mello Valença: Um estudante de Relações Internacionais tem de possuir uma formação acadêmica ampla. Os cursos tendem, em sua maioria, a favorecer uma área específica e negligenciar as demais – às vezes investem demais em Economia, Política, Teoria ou Comércio Exterior. Na prática, um conhecimento mais amplo dessas áreas é importante para proporcionar uma capacidade analítica mais compreensiva e, dependendo do seu interesse pessoal ou profissional, o estudante se aprofundaria em um tema. Com isso, podemos relacionar esse leque de atuação mais amplo com a possibilidade de se adaptar mais facilmente aos desafios que os processos de globalização impõem aos profissionais. Acredito que essa é a grande vantagem comparativa do profissional de Relações Internacionais em relação a outras carreiras: uma formação compreensiva que permite maior inserção profissional e intelectual.

REVISTA DO VESTIBULAR: Em que áreas um profissional com essa habilitação pode atuar, em especial os formados na UERJ?

Marcelo Mello Valença: Tradicionalmente associa-se o internacionalista a áreas como diplomacia ou comércio exterior. Contudo, essa visão é altamente limitada e restrita. Hoje, há graduados em Relações Internacionais nas mais diversas áreas do mercado. Grandes empresas contratam internacionalistas para áreas estratégicas, como energia, meio ambiente, sustentabilidade, além de espaços mais tradicionais, como logística e análises econômicas. Na mesma linha, há profissionais atuando em órgãos do governo, Organizações Não Governamentais (ONG), câmaras de comércio, empresas de consultoria e, para quem possui os cursos de mestrado e doutorado, na academia. A formação do aluno de Relações Internacionais da UERJ se pauta a partir dessa variedade de atuações. Buscamos oferecer uma abordagem ampla e humanista, atenta às necessidades e mudanças da sociedade. Nossa preocupação foi aproveitar os pontos fortes da universidade – uma grande variedade de cursos em um mesmo campus – e proporcionar a chance de o estudante desenvolver o instrumental acadêmico e profissional a partir dos seus interesses. Então, a proximidade com cursos como Ciências Econômicas, Direito, Administração e Jornalismo atraem nossos alunos, que constroem seu diferencial a partir dos seus interesses específicos, complementando a formação que as disciplinas obrigatórias oferecem. Com isso, percebemos que, apesar de o nosso curso ser recente, temos alunos com boa inserção, estagiando em ONG e grupos de pesquisa, dentro e fora da universidade. Alguns, com o interesse específico em diplomacia e atuação em ONG e agências internacionais, envolvem-se ativamente em simulações, desenvolvendo um instrumental específico para essas áreas. Estamos negociando, também, parcerias com institutos e empresas para aumentar ainda mais o alcance do nosso curso.

REVISTA DO VESTIBULAR: Quais as maiores dificuldades que o jovem graduado em Relações Internacionais vai enfrentar na vida profissional? E quais as maiores alegrias?

Marcelo Mello Valença: Acredito que as dificuldades enfrentadas por um graduado em Relações Internacionais sejam muito próximas àquelas percebidas por graduados em outras áreas com grande número de formandos: uma alta concorrência e um mercado que busca os mais capacitados, tanto acadêmica quanto profissionalmente. Por isso, a importância da consolidação de uma boa formação desde os primeiros semestres da graduação. Porém, ao contrário de outras carreiras, a área do internacionalista está em franca expansão. E isso proporcionará oportunidades e desafios que certamente tornarão o futuro de um formado na área muito mais promissor do que em outras carreiras.

REVISTA DO VESTIBULAR: Gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem para os candidatos do Vestibular Estadual que desejam cursar Relações Internacionais.

Marcelo Mello Valença: Todos aqueles interessados em estudar Relações Internacionais na UERJ devem saber que a universidade é uma das pioneiras na área no Rio de Janeiro. Apesar do nosso curso e Departamento serem recentes, desde a década de 1980, a Universidade já desenvolve estudos sobre as relações internacionais. O curso de Relações Internacionais é hoje um dos mais disputados da UERJ e está em franco crescimento. Nossas expectativas são excelentes e a universidade está trabalhando intensamente para que o curso cresça ainda mais e se destaque, tanto no Rio de Janeiro, quanto no Sudeste. O departamento é formado por professores com grande experiência em diferentes áreas das relações internacionais, incluindo política externa brasileira, segurança, integração regional e economia política. Realizaremos em breve novos concursos, o que irá trazer novos professores para o departamento, melhorando ainda mais nosso corpo docente. Temos uma integração forte com a pós-graduação – os alunos do mestrado atuam como monitores da graduação e, em breve, teremos nosso curso de doutorado em funcionamento. De forma complementar, há um trabalho amplo com organismos, outras universidades e empresas fora da UERJ para inserir nossos alunos no mercado de trabalho em diferentes áreas, como negócios internacionais, humanitarismo e resolução de controvérsias, além de propiciar oportunidades na área de pesquisa. Para o pouco tempo de funcionamento, podemos dizer que o curso de Relações Internacionais já se mostra um projeto bem-sucedido.

 

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